quarta-feira, agosto 15, 2012


In my imagination you’ll be lying on your side, with your hands between your tights.


Eu não queria acordar daquele sonho, os lábios dele tocavam os meus de uma forma delicada, tão delicada quanto o bater de asas de uma borboleta em meio a um tufão.

As mãos dele eram grandes, se comparadas as minhas minúsculas. O sorriso que brotava no canto da sua boca tinha um ar sarcástico, meio que arrogante, e até um tanto quanto irônico. Ele era mal, eu sabia nada muito bom seria daquele jeito. Nada muito bom me proporcionaria às sensações que eu experimentava quando estava com ele. Um misto de raiva e atração, eu o repudiava, mas o queria o mais próximo de mim que fosse possível. Eu queria roubar todo o calor daquele corpo, eu queria respirar o ar que ele respirava, eu o queria pra mim. Não queria dividi-lo com mais ninguém, afinal, era a mim a quem ele pertencia, ao menos em sonho. E mesmo num sonho, eu gostava de observar os seus gestos, desde o mais simples, aos mais complexos. Ele tinha um ponto entre o pescoço e a clavícula que quando eu tocava, eu podia ver o arrepio passando pelo seu corpo e eriçando os pelos de seu braço. Eu não conseguia mais negar, por mais que eu tentasse, e olha que eu tentava, eu estava louca por ele. Eu não queria acordar daquele sonho, mas eu tinha de abrir meus olhos, eu não queria, mas eu devia. E quando eu enfim, consegui reunir a coragem necessária para acordar, eu pude ver aquele par de olhos achocolatados olhando diretamente pra mim, como se vasculhassem a minha alma, e vissem tudo que há de podre dentro dela, ele tinha uma intensidade que até então eu não reconhecia, nunca tinha visto, ele olhando assim para nada e nem ninguém, talvez eu tivesse visto um vislumbre de algo similar, enquanto assistia ao filme favorito dele. O nosso filme favorito devo me corrigir. Afinal era ele que sempre me dizia que me levaria para o lado negro da força, e eu duvidava, teimava dizendo que eu era uma jedi e que ele nunca me converteria. Ah, mas ele converteu, converteu e corrompeu, ele era pior do que uma droga, eu estava viciada, e eu queria mais.


A forma que ele me olhava era tão intensa que me queimava internamente, e só pela forma que ele me olhava eu podia ver sentir que meu corpo pedia para ser despido e tomado novamente por aquelas mãos enormes. Eu não queria ser amada por ele. Não era isso, eu o queria como matéria, como corpo. Eu queria contrariar as leis da física e provar que sim, dois corpos podem ocupar o mesmo espaço no tempo.


Ficamos parados naquele momento pelo que poderiam ter sido horas, dias, ou até mesmo semanas. Por mais que não tivesse sido mais do que alguns minutos. O rosto dele, eu me lembraria para sempre, não digo de forma romântica e nem nada do tipo, eu digo da forma pratica mesmo. Eu havia memorizado o rosto dele, o nariz um tanto quanto comprido, os olhos arredondados, cor de chocolate ao leite, que sempre tentavam manterem-se duros como pedras, por mais que várias vezes eu os tenha visto derretidos, queimando, para ser mais exata. Seu lábio inferior era mais volumoso que o superior, nada com muita diferença, mas eu havia notado. A linha bem marcada da mandíbula acentuava o formato do queixo, e ele tinha a mania de deixar a barba por fazer, que olha, eu devo dizer, me deixava ainda mais atraída pela sua aparência. Talvez ele fosse mesmo um predador, como as cobras corais, que usam de suas cores, de sua “vivacidade” para atrair camundongos iludidos por aí. Ele tinha uma cicatriz bem marcada em baixo dos olhos, e por mais que ele nunca revelasse como a adquiriu, eu tinha certeza que tinha algo a ver com seu passado, do qual poucos conhecia,. Seus cabelos não tinham um formato definido, eram totalmente bagunçados e eu nunca poderia dizer se eles eram lisos ou cacheados, eu brincava com ele dizendo que o seu cabelo tinha personalidade própria. E eles tinham mesmo.


- Porque você me olha tanto? O que você tanto vê? - Ele me perguntou com aquela voz rouca, aquela voz que me causava arrepios extremos quando dizia coisas sujas em meu ouvido enquanto me agarrava loucamente, com um desejo um tanto quanto febril.

- Eu vejo você. – Foi a única coisa que consegui dizer, enquanto saia dos meus devaneios.


- Ana Carolina Araújo


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