As Vantagens de ser Boba

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quinta-feira, janeiro 31, 2013


O Amor

Não há ser humano capaz de compreender o amor. Muitos anseiam, muitos morrem por e muitos não conseguem viver sem. 
Que amor é esse que só machuca? Que amor é esse que só preocupa? Que amor é esse que dá esperança? Que é a razão de tantos risos e sorrisos sinceros? 

Desconheço tal sentimento, justamente por amar demais, por depender demais. Por amar demais desconheço o amor, por amar demais o amor para mim é inalcançável. Por amar demais amo pouco, amo nada.




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Noites

É durante a noite que as coisas criam vida, durante a noite que os pensamentos vagam livres, sem preconceitos ou distinções, e somente o som do silencio preenche o vazio.
Durante a noite a vida dorme, a cidade dorme, num sono irrequieto, é verdade, agitado e meio sonambulo, mas é um sono de toda forma. Durante a noite tudo, todos, dormem menos eu. E já não há o que se possa fazer, já não há mais com o que sonhar.


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sábado, outubro 20, 2012



Sinto vontade de morrer, e isso significa que sou fraca. Eu não sei tomar as decisões corretas na minha vida e me iludo muito facilmente com tudo. Eu não sou nada. Sou poeira ao vento, sou o vazio, sou o silencio de falas altas e risadas escandalosas, mostro muito de quem sou, mas não mostro nada.
Eu sou sozinha, mesmo acompanhada, eu sou o nada.

No auge da minha vida não sei o que fazer, não tenho ambições, nunca se quer tive um amor, sou alvo dos que iludem, dos que enganam; Sou alvo das circunstancias. Alguns dizem que desenho bem, outros que escrevo. Mas ninguém, uma vez se que disse, que eu sorrio bem, ou que meus olhos brilham. Eu sou sozinha. Eu sou nada. Eu sou um espectro do que fui outrora, mas não sei se aquela que fui outrora, é a mesmo de quem sou hoje. Silencio. Eu queria silencio. Porém eu queria gritar, e não quero que os meus gritos sejam ouvidos. Eu quero distancia, eu quero fugir, eu quero chorar, eu quero me esconder. Eu sou covarde, eu não aceito quem sou, porque não sei quem sou. Eu sou uma covarde por que não tenho coragem de acabar logo com isso.

Só sei que me mantenho apegada as lembranças do passado, porque não tenho esperança alguma que o futuro chegue.

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segunda-feira, setembro 17, 2012


16 de Abril




Eu pude ver que eram 3h18 da madrugada, quando eu enfim tive coragem de atender o celular. O som estridente do aparelho me acordou de um sonho agradável. Quando vi o nome na tela, meu coração saltou de forma como se eu ainda estivesse no auge dos meus quinze anos, quando ele ligou pela primeira vez. Era uma sensação incrível de que mesmo após seis anos meu coração ainda saltava quando ele ligava, e meu estômago parecia ser tomado por borboletas. Eu já devia ter me acostumado, ele sempre ligava esse horário, quando se sentia sozinho para de certa forma buscar conforto em mim. Quando o toque do telefone soou mais uma vez, eu acordei de meus devaneios e enfim atendi, ouvindo do outro lado da linha, a voz que eu reconheceria a milhas de distancia.

- Carlie? – Ele chamou meio eufórico, não pude deixar de notar também que ele parecia alterado. – Carlie você está ai? Responde! - Definitivamente ele estava alterado, drogas talvez, ou se metera em confusão novamente.

- Estou aqui Will, o que houve? – mordi meu lábio inferior como sinal de nervosismo, meu coração que antes pulara de alegria com o telefonema dele, agora se comprimia para o tamanho de uma formiga, preocupado.

- Eu queria ouvir a sua voz – suspirei com o seu tom de voz, se ele sabia dos meus sentimentos, não devia brincar com eles assim. – Tive um sonho ruim, e precisava falar com você, nem que fosse para te ouvir respirar. – soltei um riso baixo, e percebia que ele sorria do outro lado da linha. – Me promete que se algo acontecer, que se você sentir alguma coisa, qualquer coisa, você vai se lembrar que tem a mim e que eu nunca, nunca vou te abandonar, e que eu sempre vou estar do seu lado. Promete?

- Mas por que isso agora William, geralmente é você quem me liga, mas tudo bem eu prometo. Tá tudo bem Will? Com o que você sonhou? – perguntei preocupada. Eu iria me preocupar com ele durante toda minha vida, e até depois dela se fosse possível.

- Eu sonhei que o tiro que eu levei foi em você. E antes de ir estou só checando se você está ok. – Ele respondeu rápido.

Eu pude sentir a minha respiração ficando cada vez mais escassa, e com a voz um tanto quanto esganiçada pude perguntar. - Que tiro William? Que história é essa? – a ligação ficou muda, eu não conseguia ouvir mais nada. Tudo que saía do aparelho era o som estridente do despertador.

Acordei num supetão, me sentando rapidamente na cama, o telefone continuava no criado-mudo, vibrando e tocando, mostrando que já se passavam das 7h da manhã do dia 16 de abril. Tudo que acontecera anteriormente, não passara de um sonho. Mas eu também não podia deixar de acreditar que fora real. Afinal, 16 de abril de 2012 fazia um ano que o meu melhor amigo havia falecido. Eu me contorcia em lágrimas, tudo em meu corpo doía principalmente meu peito, onde uma dor lancinante atingia onde outrora havia um coração. Em meio ao desespero, senti um cheiro diferente no meu quarto, um perfume meio amadeirado. Poderiam passar mil anos que eu ainda reconheceria aquele cheiro. Sorri meio fraco entre as lágrimas e percebi que ele realmente estava cumprindo sua promessa de que nunca me deixaria. Ele estava comigo. Meu melhor amigo, meu quase amor.

- Ana Carolina Araújo


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segunda-feira, agosto 20, 2012


E eu que tanto sentia,

que tanto queria, que tanto pensava. Me encontro num completo devaneio de como me perdi em mim. Eu acredito que eu seja como uma rocha gigante em cima de um grande desfiladeiro, estável, porem instável, um grande paradoxo. Um grande nada. Não faço esse texto, não escrevo aqui, com dó de mim, pedindo por compaixão, ou tentando forçar o minimo sentimento, mesmo que a simpatia, faço esse texto para tentar aliviar o fluxo de pensamentos que me vem a mente, e eu não sei o que fazer com eles.
Eu que tanto sentia, que tanto sorria. Não mudei em nada, porém mudei em tudo, poucos conhecem quem eu sou de verdade, não me incluo nessa lista, hipócrita seria eu se eu dissesse que me conheço.

Eu que tanto sentia, ainda sinto, menos e mais. Porém sinto tudo diferente.

- Ana Carolina Araújo.



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quarta-feira, agosto 15, 2012


Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!


Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

- Clarice Lispector.
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In my imagination you’ll be lying on your side, with your hands between your tights.


Eu não queria acordar daquele sonho, os lábios dele tocavam os meus de uma forma delicada, tão delicada quanto o bater de asas de uma borboleta em meio a um tufão.

As mãos dele eram grandes, se comparadas as minhas minúsculas. O sorriso que brotava no canto da sua boca tinha um ar sarcástico, meio que arrogante, e até um tanto quanto irônico. Ele era mal, eu sabia nada muito bom seria daquele jeito. Nada muito bom me proporcionaria às sensações que eu experimentava quando estava com ele. Um misto de raiva e atração, eu o repudiava, mas o queria o mais próximo de mim que fosse possível. Eu queria roubar todo o calor daquele corpo, eu queria respirar o ar que ele respirava, eu o queria pra mim. Não queria dividi-lo com mais ninguém, afinal, era a mim a quem ele pertencia, ao menos em sonho. E mesmo num sonho, eu gostava de observar os seus gestos, desde o mais simples, aos mais complexos. Ele tinha um ponto entre o pescoço e a clavícula que quando eu tocava, eu podia ver o arrepio passando pelo seu corpo e eriçando os pelos de seu braço. Eu não conseguia mais negar, por mais que eu tentasse, e olha que eu tentava, eu estava louca por ele. Eu não queria acordar daquele sonho, mas eu tinha de abrir meus olhos, eu não queria, mas eu devia. E quando eu enfim, consegui reunir a coragem necessária para acordar, eu pude ver aquele par de olhos achocolatados olhando diretamente pra mim, como se vasculhassem a minha alma, e vissem tudo que há de podre dentro dela, ele tinha uma intensidade que até então eu não reconhecia, nunca tinha visto, ele olhando assim para nada e nem ninguém, talvez eu tivesse visto um vislumbre de algo similar, enquanto assistia ao filme favorito dele. O nosso filme favorito devo me corrigir. Afinal era ele que sempre me dizia que me levaria para o lado negro da força, e eu duvidava, teimava dizendo que eu era uma jedi e que ele nunca me converteria. Ah, mas ele converteu, converteu e corrompeu, ele era pior do que uma droga, eu estava viciada, e eu queria mais.


A forma que ele me olhava era tão intensa que me queimava internamente, e só pela forma que ele me olhava eu podia ver sentir que meu corpo pedia para ser despido e tomado novamente por aquelas mãos enormes. Eu não queria ser amada por ele. Não era isso, eu o queria como matéria, como corpo. Eu queria contrariar as leis da física e provar que sim, dois corpos podem ocupar o mesmo espaço no tempo.


Ficamos parados naquele momento pelo que poderiam ter sido horas, dias, ou até mesmo semanas. Por mais que não tivesse sido mais do que alguns minutos. O rosto dele, eu me lembraria para sempre, não digo de forma romântica e nem nada do tipo, eu digo da forma pratica mesmo. Eu havia memorizado o rosto dele, o nariz um tanto quanto comprido, os olhos arredondados, cor de chocolate ao leite, que sempre tentavam manterem-se duros como pedras, por mais que várias vezes eu os tenha visto derretidos, queimando, para ser mais exata. Seu lábio inferior era mais volumoso que o superior, nada com muita diferença, mas eu havia notado. A linha bem marcada da mandíbula acentuava o formato do queixo, e ele tinha a mania de deixar a barba por fazer, que olha, eu devo dizer, me deixava ainda mais atraída pela sua aparência. Talvez ele fosse mesmo um predador, como as cobras corais, que usam de suas cores, de sua “vivacidade” para atrair camundongos iludidos por aí. Ele tinha uma cicatriz bem marcada em baixo dos olhos, e por mais que ele nunca revelasse como a adquiriu, eu tinha certeza que tinha algo a ver com seu passado, do qual poucos conhecia,. Seus cabelos não tinham um formato definido, eram totalmente bagunçados e eu nunca poderia dizer se eles eram lisos ou cacheados, eu brincava com ele dizendo que o seu cabelo tinha personalidade própria. E eles tinham mesmo.


- Porque você me olha tanto? O que você tanto vê? - Ele me perguntou com aquela voz rouca, aquela voz que me causava arrepios extremos quando dizia coisas sujas em meu ouvido enquanto me agarrava loucamente, com um desejo um tanto quanto febril.

- Eu vejo você. – Foi a única coisa que consegui dizer, enquanto saia dos meus devaneios.


- Ana Carolina Araújo


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