segunda-feira, setembro 17, 2012


16 de Abril




Eu pude ver que eram 3h18 da madrugada, quando eu enfim tive coragem de atender o celular. O som estridente do aparelho me acordou de um sonho agradável. Quando vi o nome na tela, meu coração saltou de forma como se eu ainda estivesse no auge dos meus quinze anos, quando ele ligou pela primeira vez. Era uma sensação incrível de que mesmo após seis anos meu coração ainda saltava quando ele ligava, e meu estômago parecia ser tomado por borboletas. Eu já devia ter me acostumado, ele sempre ligava esse horário, quando se sentia sozinho para de certa forma buscar conforto em mim. Quando o toque do telefone soou mais uma vez, eu acordei de meus devaneios e enfim atendi, ouvindo do outro lado da linha, a voz que eu reconheceria a milhas de distancia.

- Carlie? – Ele chamou meio eufórico, não pude deixar de notar também que ele parecia alterado. – Carlie você está ai? Responde! - Definitivamente ele estava alterado, drogas talvez, ou se metera em confusão novamente.

- Estou aqui Will, o que houve? – mordi meu lábio inferior como sinal de nervosismo, meu coração que antes pulara de alegria com o telefonema dele, agora se comprimia para o tamanho de uma formiga, preocupado.

- Eu queria ouvir a sua voz – suspirei com o seu tom de voz, se ele sabia dos meus sentimentos, não devia brincar com eles assim. – Tive um sonho ruim, e precisava falar com você, nem que fosse para te ouvir respirar. – soltei um riso baixo, e percebia que ele sorria do outro lado da linha. – Me promete que se algo acontecer, que se você sentir alguma coisa, qualquer coisa, você vai se lembrar que tem a mim e que eu nunca, nunca vou te abandonar, e que eu sempre vou estar do seu lado. Promete?

- Mas por que isso agora William, geralmente é você quem me liga, mas tudo bem eu prometo. Tá tudo bem Will? Com o que você sonhou? – perguntei preocupada. Eu iria me preocupar com ele durante toda minha vida, e até depois dela se fosse possível.

- Eu sonhei que o tiro que eu levei foi em você. E antes de ir estou só checando se você está ok. – Ele respondeu rápido.

Eu pude sentir a minha respiração ficando cada vez mais escassa, e com a voz um tanto quanto esganiçada pude perguntar. - Que tiro William? Que história é essa? – a ligação ficou muda, eu não conseguia ouvir mais nada. Tudo que saía do aparelho era o som estridente do despertador.

Acordei num supetão, me sentando rapidamente na cama, o telefone continuava no criado-mudo, vibrando e tocando, mostrando que já se passavam das 7h da manhã do dia 16 de abril. Tudo que acontecera anteriormente, não passara de um sonho. Mas eu também não podia deixar de acreditar que fora real. Afinal, 16 de abril de 2012 fazia um ano que o meu melhor amigo havia falecido. Eu me contorcia em lágrimas, tudo em meu corpo doía principalmente meu peito, onde uma dor lancinante atingia onde outrora havia um coração. Em meio ao desespero, senti um cheiro diferente no meu quarto, um perfume meio amadeirado. Poderiam passar mil anos que eu ainda reconheceria aquele cheiro. Sorri meio fraco entre as lágrimas e percebi que ele realmente estava cumprindo sua promessa de que nunca me deixaria. Ele estava comigo. Meu melhor amigo, meu quase amor.

- Ana Carolina Araújo


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