segunda-feira, agosto 20, 2012


E eu que tanto sentia,

que tanto queria, que tanto pensava. Me encontro num completo devaneio de como me perdi em mim. Eu acredito que eu seja como uma rocha gigante em cima de um grande desfiladeiro, estável, porem instável, um grande paradoxo. Um grande nada. Não faço esse texto, não escrevo aqui, com dó de mim, pedindo por compaixão, ou tentando forçar o minimo sentimento, mesmo que a simpatia, faço esse texto para tentar aliviar o fluxo de pensamentos que me vem a mente, e eu não sei o que fazer com eles.
Eu que tanto sentia, que tanto sorria. Não mudei em nada, porém mudei em tudo, poucos conhecem quem eu sou de verdade, não me incluo nessa lista, hipócrita seria eu se eu dissesse que me conheço.

Eu que tanto sentia, ainda sinto, menos e mais. Porém sinto tudo diferente.

- Ana Carolina Araújo.



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quarta-feira, agosto 15, 2012


Das Vantagens de Ser Bobo

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!


Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

- Clarice Lispector.
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In my imagination you’ll be lying on your side, with your hands between your tights.


Eu não queria acordar daquele sonho, os lábios dele tocavam os meus de uma forma delicada, tão delicada quanto o bater de asas de uma borboleta em meio a um tufão.

As mãos dele eram grandes, se comparadas as minhas minúsculas. O sorriso que brotava no canto da sua boca tinha um ar sarcástico, meio que arrogante, e até um tanto quanto irônico. Ele era mal, eu sabia nada muito bom seria daquele jeito. Nada muito bom me proporcionaria às sensações que eu experimentava quando estava com ele. Um misto de raiva e atração, eu o repudiava, mas o queria o mais próximo de mim que fosse possível. Eu queria roubar todo o calor daquele corpo, eu queria respirar o ar que ele respirava, eu o queria pra mim. Não queria dividi-lo com mais ninguém, afinal, era a mim a quem ele pertencia, ao menos em sonho. E mesmo num sonho, eu gostava de observar os seus gestos, desde o mais simples, aos mais complexos. Ele tinha um ponto entre o pescoço e a clavícula que quando eu tocava, eu podia ver o arrepio passando pelo seu corpo e eriçando os pelos de seu braço. Eu não conseguia mais negar, por mais que eu tentasse, e olha que eu tentava, eu estava louca por ele. Eu não queria acordar daquele sonho, mas eu tinha de abrir meus olhos, eu não queria, mas eu devia. E quando eu enfim, consegui reunir a coragem necessária para acordar, eu pude ver aquele par de olhos achocolatados olhando diretamente pra mim, como se vasculhassem a minha alma, e vissem tudo que há de podre dentro dela, ele tinha uma intensidade que até então eu não reconhecia, nunca tinha visto, ele olhando assim para nada e nem ninguém, talvez eu tivesse visto um vislumbre de algo similar, enquanto assistia ao filme favorito dele. O nosso filme favorito devo me corrigir. Afinal era ele que sempre me dizia que me levaria para o lado negro da força, e eu duvidava, teimava dizendo que eu era uma jedi e que ele nunca me converteria. Ah, mas ele converteu, converteu e corrompeu, ele era pior do que uma droga, eu estava viciada, e eu queria mais.


A forma que ele me olhava era tão intensa que me queimava internamente, e só pela forma que ele me olhava eu podia ver sentir que meu corpo pedia para ser despido e tomado novamente por aquelas mãos enormes. Eu não queria ser amada por ele. Não era isso, eu o queria como matéria, como corpo. Eu queria contrariar as leis da física e provar que sim, dois corpos podem ocupar o mesmo espaço no tempo.


Ficamos parados naquele momento pelo que poderiam ter sido horas, dias, ou até mesmo semanas. Por mais que não tivesse sido mais do que alguns minutos. O rosto dele, eu me lembraria para sempre, não digo de forma romântica e nem nada do tipo, eu digo da forma pratica mesmo. Eu havia memorizado o rosto dele, o nariz um tanto quanto comprido, os olhos arredondados, cor de chocolate ao leite, que sempre tentavam manterem-se duros como pedras, por mais que várias vezes eu os tenha visto derretidos, queimando, para ser mais exata. Seu lábio inferior era mais volumoso que o superior, nada com muita diferença, mas eu havia notado. A linha bem marcada da mandíbula acentuava o formato do queixo, e ele tinha a mania de deixar a barba por fazer, que olha, eu devo dizer, me deixava ainda mais atraída pela sua aparência. Talvez ele fosse mesmo um predador, como as cobras corais, que usam de suas cores, de sua “vivacidade” para atrair camundongos iludidos por aí. Ele tinha uma cicatriz bem marcada em baixo dos olhos, e por mais que ele nunca revelasse como a adquiriu, eu tinha certeza que tinha algo a ver com seu passado, do qual poucos conhecia,. Seus cabelos não tinham um formato definido, eram totalmente bagunçados e eu nunca poderia dizer se eles eram lisos ou cacheados, eu brincava com ele dizendo que o seu cabelo tinha personalidade própria. E eles tinham mesmo.


- Porque você me olha tanto? O que você tanto vê? - Ele me perguntou com aquela voz rouca, aquela voz que me causava arrepios extremos quando dizia coisas sujas em meu ouvido enquanto me agarrava loucamente, com um desejo um tanto quanto febril.

- Eu vejo você. – Foi a única coisa que consegui dizer, enquanto saia dos meus devaneios.


- Ana Carolina Araújo


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Um papel em branco,

lapis, tinta e toneladas de sentimentos não ditos, transcritos em desenhos ao som de uma melodia triste. Sejam bem vindos, ao fragmento da pessoa que fui um dia. Bem vindos, ao vazio que sou eu..

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Sabe aquela sensação ...

de que tudo e todos que você conhece, se relaciona ou já se relacionaram em algum momento no tempo espaço? Todos os nossos laços afetivos estão interligados aos
de outras pessoas com nós tão apertados que são impossíveis de se soltar. Um dia você conhece alguém e puff, de alguma forma aquela pessoa já conhecia alguém que você conhecia. Vocês sem saberem já frequentaram os mesmo espaços, sorriram pelos mesmos motivos, choraram também. A vida é como um bordado, muito bem elaborado, no qual ponto algum fica sem nó, e sozinhos os pontos não fazem sentido, mas se vistos juntos, formam uma imagem tão bela que você até esquecera que um dia aquela imagem não fizera sentido. Assim, com a mesma delicadeza, e a mesma falta de sentido inicial são formados os laços humanos. Alguns com pontos tão fortes que mesmo desfeitos marcam o tecido de forma definitiva, outros tão fracos que um dia você esquecera que houvera um ponto ali. As coisas são assim, acontecem e não acontecem, existem se existir. Quantas vezes você acreditou que houvera um ponto ali e na verdade, nunca houvera ponto algum. A vida não faz sentido, é um emaranhado de nós, pontos, fios e pontas soltas.Algumas pessoas fazem o papel da agulha, compondo esses pontos, ajudando a criar essa imagem que é o que nós somos, são as referencias que um dia tivemos para criar a imagem que hoje somos. Mas as agulhas se trocam, outras referências chegam e muitas se vão, as pessoas passam, poucas ficam. Mas todas elas deixam sua marca, ajudam a nos compor.
E agora me perguntam, quando esse bordado termina? Quando nós estamos tão completos a ponto de não caber mais nenhum um novo laço? Eu respondo, nunca. Nunca terminamos, somos sempre um esboço incompleto, nunca seremos cheios, somos rascunho, somos inacabados. E por isso eu te peço, prestem atenção, não esperem que um dia irá chegar alguém e de repente, como por um passe de magica, você irá estar completo, isso não acontecerá, nenhuma pessoa tem esse poder, te completar o vazio, pois ela mesma, é um projeto inacabado. Tente por si só se completar, mesmo sabendo que nunca irá, porque é esse o gostoso da vida, saber que nunca iremos acabar, saber que sempre teremos algo a fazer, saber que somos incompletos e que nunca nos completaremos, porque o gostoso é a busca, é a vontade, é o desejo. Seja incompleto e não seja feliz, felicidade é algo que nos ludibria, seja infeliz e incompleto, e assim, procure sempre por aquilo que te completa, por aquilo que te fará feliz, porque como eu disse e repito, o melhor da felicidade, o melhor de ser completo, é correr atrás dela. É o desafio que nos move, tecendo ponto por ponto, nó por nó, para que no dia que o tecido puir o bordado já esteja completo.

- Ana Carolina Araújo




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Eu tenho mais medo de crescer do que de qualquer outra coisa;



Ás vezes quando eu acordo de manhã, antes mesmo de abrir meus olhos, eu lembro de tudo que eu fiz no dia anterior, e tudo o que eu pretendo fazer no dia que está por vir. E uma vez em meio a esses meus devaneios eu me lembrei de que quando eu era mais nova eu não pensava em nada, eu só fazia, e dude, isso me fazia tão bem.
Ás vezes eu queria saber onde perdi minha impulsividade, ela some nos momentos em que eu mais preciso, e por conta disso eu enrolo, demoro, adio e acabo não fazendo coisas que precisam ser feitas. Coisas que já deveriam ter sido resolvidas.
Eu gostava de ser criança, tudo o que eu queria eu pedia, podia não ter, mas a unica coisa que eu tinha ao meu alcance pra fazer, eu fazia. Hoje tudo é tão complicado, se eu quero algo, eu tenho que correr atrás.
Posso muitas vezes ser interpretada errada e tudo o mais, mas não é isso. Eu gosto da dependência, da comodidade, resumindo eu gosto da segurança.

Ser adulto é tão ruim, não só pelas contas a pagar, satisfações a dar, ser adulto é ruim, porque com o estresse de todo dia, você se esquece, das coisas que você mais dava valor quando era mais nova.
Quanto mais o tempo passa, mais você esquece de que tudo era simples.
Quando eu era mais nova, ver um filme me fazia feliz, atualmente ainda me faz. Mas quando eu era mais nova, eu percebia detalhes e entrelinhas nos filmes, que atualmente só me esforçando eu enxergo, eu era mais simples. Tudo era mais simples.
Eu era mais feliz. Tudo era mais feliz.

É por esse e outros motivos que eu ainda acredito em que diz que a felicidade está escondida na simplicidade das coisas, nos detalhes, nos gestos. .-.

Antigamente eu enxergava melhor.

Eu tenho medo de crescer mais do que qualquer outra coisa, porque eu tenho medo de ficar cega, eu tenho medo de um dia não ser mais capaz de ver a felicidade na pureza dos gestos. :/

- Ana Carolina Araújo
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Desafiando a gravidade


Num mundo onde tudo é estático, tudo é o mesmo, sempre com os mesmos padrões, as mesmas conversas falsas, os mesmos sorrisos vazios, a única forma de sobreviver com sanidade é desafiando a gravidade.

Durante toda a nossa vida a sociedade nos força a cumprir papeis que não queremos interpretar. Força-nos a jogar o nosso próprio jogo com as regras deles, e o que realmente agrava a situação é que nós, não fazemos nada para lutar contra essa maré. A sociedade nos molda para sermos nada mais do que empregados, peões, de alguém que já nasceu como “patrão”. Poucos são os que desafiam de fato a gravidade, são até, muitas vezes considerados loucos, sonhadores, como se isso os tornassem medíocres.

Entre esses “loucos” estão as pessoas dos mais variados tipo, eles são os excluídos da sociedade, os verdadeiros marginais. São eles que ao assumirem posse de si mesmos, se jogam no abismo que a todos devora que é a sociedade com seus padrões tão superficiais. São os loucos, que mudam o mundo o em algum momento, diferente dos robôs criados pelos padrões imundos dessa sociedade, que por mais que tenham suas vontades às reprimem de maneira quase doentia, só para continuar seguindo o padrão fútil que os é estipulado.

Num mundo onde tudo é artificial, tudo é criado, é raro encontrar algo verdadeiro, e quando algo é verdadeiro de fato, é automaticamente reprimido como se fosse o pior crime que poderia ser cometido.

A vida nos foi dada, acredito, como um presente, assim como o livre-arbitrio. Eu acredito e confio nos loucos, porque se alguém tem capacidade de quebrar as barreiras dessa sociedade esdrúxula, esses são os sonhadores.


- Ana Carolina Araújo


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